estou mas nao necessariamente sou. eu sai do trem assim como voce mandou, mas o vazio continua. olhei por atraves das pilastras e vi o ceu cinza. o vento que trazia e cobria o azul. com frio nos pes, caminhei sem entender mas sentia. sentia que estava perto e que o fim se aproximava, assim como sorrateiro um vento que te arrepia por tras dos olhos. subi as escadas rolantes, observei as pessoas passando / um zumbido no ouvido.
eu fiz tudo o que voce mandou fazer, mas nada aconteceu. eu so fui embora, exatamente da mesma maneira que voce foi.
eu, pequeno, olhei para cima e vi as pessoas passando. meu pescoco doi se eu olhar muito tempo pra frente / ando olhando para o chao mesmo voce me dizendo pra nao. eu nao sei como sair, mas gostaria de sair. voce saiu. eu, sozinho como voce, fui chutado ate lamber minhas proprias feridas. sei que a gente nao tem muito a ver, mas eu sei que no fundo a gente sofreu pelo mesmo. o abandono. voce gostaria que eu fosse mais do que isso, enquanto eu sei que voce nao me deixaria ser mais do que isso.
eu nao sei como sair, mas gostaria de sair. o caminho que fiz, o sol gelado do outono, o abandono e a incompreensao. tudo latejava ao mesmo tempo, mesmo eu querendo melhorar.
eu vi a paisagem pela janela e nao pude deixar de notar como tudo estava mais vazio. desde entao, nao houve mais sol no meio da chuva / nao havia mais arco-iris / nao havia mais reflexo nas pocas d`agua / nao havia mais sentido para preencher qualquer vazio que fosse. o vazio se tornou familiar. por entre os vidros das lojas eu via as historias, mas nao podia ouvi-las. voce me disse que as coisas iam mudar da proxima vez que melhorassem, mas nada aconteceu.
aos poucos percebi que tudo que voce me dizia era mentira, mas voce so repetia o comportamento que tive toda minha vida. nao havia porque voce me contar verdades se tudo que te ensinei foi a contar mentiras. e entao as pecas cairam e formaram o quebra cabeca. eu o destrui e voce nunca mais pode me contar mentiras, mas dai tudo acabou.